afinal não somos só nós ...
sexta-feira, dezembro 05, 2003
NUMA RÁBULA que se repete de quatro em quatro anos, soube-se agora que Alberto João Jardim vai, afinal, candidatar-se de novo nas eleições regionais de 2004. Após 25 anos à frente do poder madeirense - e apesar das suas renovadas e veementes promessas de não se candidatar e encontrar um sucessor - Jardim vê-se obrigado a permanecer no posto. O veterano presidente do governo regional da Madeira tornou-se um refém político na sua própria ilha. Ao contrário de Mota Amaral, que teve a capacidade e soube fazer a transição, na sua carreira, da dimensão regional para o plano nacional, Jardim nunca foi capaz de se afirmar fora do seu reduto. Nem a nível da direcção nacional do PSD, nem em órgãos como o Parlamento ou o Conselho de Estado. A sua voz não é ouvida ou, quando o é, não se leva a sério. Daí que sempre se tenham frustrado as suas tentativas para se libertar do espartilho regional. Quer em rocambolescas encenações de candidatura à Presidência da República quer em fracassadas alianças para disputar o poder no PSD nacional. Agora, parece fechar-se-lhe a última porta de saída da sua «prisão regional»: o cargo de comissário europeu. Que, não obstante muitas resistências e reticências, Durão Barroso terá chegado a ponderar, mas que parece destinado a continuar nas mãos de António Vitorino. De novo encurralado na sua ilha, Jardim deu mais uma vez o dito por não dito. E volta, resignado, às estradas madeirenses para a campanha eleitoral de 2004. Se, na Madeira, Jardim é quase um mito, fora do arquipélago não tem horizontes, ninguém parece querê-lo como representante ou aliado. Faz lembrar, em muitos aspectos, o percurso de outro líder regional, Jorge Nuno Pinto da Costa. Porque o já histórico líder madeirense tem muitas e múltiplas vitórias eleitorais na ilha, mas poucos ou nenhuns sociais-democratas o seguem no continente. Tem frontalidade, mas não tem credibilidade. Tem energia a rodos e não teme riscos, mas falta-lhe contenção e equilíbrio. Tem uma cartilha populista e muitas tribunas para se exprimir, mas carece de densidade teórica e de consistência política. Tem muita obra feita, mas assente num poder clientelar e num défice democrático terceiro-mundista. Aprisionado pelas suas limitações, enredado nas suas contradições, Jardim aposta agora tudo no populismo constitucional e no sonho de um peronismo presidencial. E empenha o seu destino político no «ticket» populista Santana Lopes/Paulo Portas. É o crepúsculo de um inconformado e limitado dinossauro. P.S. - A propósito da dupla Santana Lopes/Paulo Portas, responsável pelo projecto de revisão constitucional da coligação PSD/CDS, assinale-se que, a par do aumento de mandato dos autarcas para 5 anos, desapareceu no projecto a redução da indecorosa imunidade dos titulares de cargos políticos, aprovada pelo próprio Conselho Nacional do PSD. Depois, admirem-se.
Publicado por Manuel 00:40:00
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