resposta a Carlos Abreu de Amorim

Duas notas prévias :

Em primeiro lugar por estas bandas ninguém assumiu, cumulativamente, as dores de terceiros. O  Doutor  Pacheco costuma  saber defender-se razoavelmente bem, e pela sua cabeça, e não consta que passe procurações. Quanto ao PSD, o autor, é de facto militante do mesmo e,  pasme-se, até  tem as cotas em dia, mas descancem as  alminhas mais ortodoxas que não houve qualquer tentantiva ou intuito de defesa do PSD no nosso post original.

Em segundo lugar, sejamos realistas: se se tirar  da equação o factor mediático do palco televisivo, e é isso que de facto incomodou CAA, Pacheco Pereira até foi bastante contido nas críticas a Monteiro e ao PND. Por estas bandas já se fizeram críticas muito mais ferozes e o próprio texto a que CAA agora responde é substantivamente muito mais violento do que as criticas originais de Pacheco.

Mais, há uma divergência de fundo, entre a nossa análise, e a de Pacheco, quanto à natureza profunda da ND. Pacheco vê-a aparentemente, e iminentemente, como uma ameaça populista personificada num one men show, o de Monteiro. Nós, como já aquí se escreveu mais que uma vez, entendemos que Monteiro está consciente ou inconscientemente a ser usado, que do ponto de vista dos mentores da ND é descartável e que mais, numa perspectiva puramente estratégica, a ND  está a fazer um grande favor ao Dr. Portas e às suas tentativas de hegemonização do Centro e da Direita.

Dito isto e relativamente às justificações de CAA temos a comentar o seguinte:

  1. Em relação à natureza do PSD, CAA treslê, muito convenientemente as nossas declarações e omite um grande detalhe.

    Mas vamos por partes :

    O PSD sempre teve no seu seio diferentes correntes, umas mais populistas, outras mais conservadoras, umas mais social-democratas, outras mais liberais e outras mais conservadoras.

    Nunca ouve uma corrente única embora haja sempre uma correntre que num dado instante é maioritária. Mas num ponto todas as correntes convergem que é o de um intrinseco espirito reformista e de um certo personalismo humanista.

    Agora, o que o PSD nunca fez, personificado num único personagem, e aquí é que está o cerne da questão, foi tentar ser tudo para toda a gente, e basta ler o Expresso desta semana, e as declarações lá proferida pelo Dr. Monteiro, para se perceber que é esse rigorosamente o pecado da ND.

    A diferença é que uma coisa é ninguem saber ao certo, por ser imprevisível,  o que vai na cabeça do Dr. Monteiro num dado instante, outra completamente diferente é não se saber o que vai na cabeça do Dr. Pacheco, do Dr. Marcelo, do Dr. Santana, etc (e isso toda a gente sabe) ...

    O CAA confunde a natural diversidade opinativa de um partido de poder, que cresceu e se solidificou fazendo força da complementaridade das suas diferentes correntes com a contra natura "diversidade", passe o eufemismo, opinativa de uma só pessoa - chame-se ela Monteiro, Portas, ou Sassá Mutema, num dado instante.

    Logo, nós não proclamamos a ambiguidade como grande segredo laranja, proclamamos isso sim, a liberdade de expressão e pensamento, dentro de um quadro muito bem definido por Francisco Sá Carneiro como o grande segredo laranja.

  2. "O PSD não pensa a política – limita-se a aferir para que lado sopra o vento. Foi radical quando os tempos eram agrestes, moderado quando a poeira assentou, contestatário quando as nuvens escureceram, meias-tintas nos momentos de transição. Mas pensamento?" Aparte a citação anterior  parecer uma epitáfio funebre de Monteiro ou até Portas esta é particularmente injusta para o PSD. Com efeito parece que o virús revisionista que assolou o último congresso do PP já está a provocar mossa na nóvel ND.

    Afirmar que Sá Carneiro ou Cavaco  não pensaram a política, ignorar a Nova Esperança e ignorar que o PSD esteve presente em todos om momentos de viragem e verdadeira reforma no pós 25/4, desde o fim do Conselho da Revolução ao fim da  loucura estatista só pode ser interpretado como um excesso momentâneo de alguem toldado pela emoção ...

    De qualquer modo, quando me encontrar com CAA  (somos ambos do Porto e tudo) prometo emprestar-lhe um livrinho com todas as moções presentes a  Congresso na história do PSD. De certeza  que  o vai achar muito pedagógico ...

  3. Aquí, e passe a boutade que é comparar o PSD ao Benfica, é que CAA demonstra claramente não perceber o espírito do PSD.

    Eu não substimo o aparelho; eu abomino o aparelho (e até, pasme-se, defendo a extinção pura e simples da JSD e dos TSD). Só que por muito que custe a muitos, dentro do próprio PSD, este não é, nunca foi, um Partido de "caciques, baronetes, senhores de votos ambulantes e contadores de cabeças votantes". O PSD é antes de mais um partido de gente anónima, que não precisa de ser filiada para se sentir PSD. Aliás sempre que se tentou reduzir o PSD ao aparelho ignorando o pulso do País os resultados foram desastrosos.

    Quando  Cavaco foi candidato contra Sampaio, o aparelho laranja, senão todo, em boa parte, relaxou "amuado" pelo pretenso deixar cair de Cavaco a Nogueira,  nas legislativas anteriores, e não foi por isso que não houve campanha, e não foi por isso, que dadas as circunstâncias, não se obteve um excelente resultado.

    Reduzir o PSD ao aparelho é pura ingenuidade política. Mais, quanto aqueles que baixam os braços por causa dos Menezes, Majores, Jorges Ferreira e Castelos Brancos  deste mundo  só uma nota : enquanto se jogar pelas regras deles estão condenados a perderem ou a acabarem atolados em compromissos artificiais...

  4. Não se tratam de palpites, tratam-se de factos. Toda a gente tem um passado, não vem do vácuo. E o facto é que por definição a ND tem que ter, não tendo bases, não tendo aparelho - no sentido PSD, PS ou PC do termo - um discurso puramente mediático e esse discurso empurra-a natural e inapelavelmente para o monocromatismo e maniqueismo ideológico. Lógica, meu caro CAA. Mas o futuro falará por nós os dois.

  5. Eu sei que foi um bocadinho mais complicado. Mas esse bocadinho mais "complicado" noutro Partido era impossível ... 

  6. Não se trata de revelar "uma descrença tão acentuada no sistema que nem sequer consegue admitir que este suporte qualquer abertura ou distinção". Trata-se simplesmente de puro realismo : sou um reformista, não um revolucionário e quando ouço apelos a uma quarta República estremeço. Estremeço porque se trata de pura demagogia. Bem ou  mal, vivemos no País que vivemos, no contexto em que vivemos. Não podemos fugir a isso. Querer aparecer, e logo quem, coberto à distância por que tais, como virgens impolutas e com a  fórmula da pólvora convenhamos que não é o melhor cartão de visita  (e aquí mais uma vez remeto CAA para as declarações de Monteiro ao Expresso ...)

  7. Antes de mais, que nos metam no mesmo saco que o Pacheco ainda vá que não vá, agora no mesmo da  caixa de ressonância do BE, que nem de física elementar percebe é que já era dispensável ...

    Não se trata de gostar ou não gostar do Dr. Monteiro. De um ponto de vista prático e até teórico o Dr. Monteiro, como o Dr. Portas e até o Dr. Santana são os adversários ideais:  São  geralmente mais  vulgares do que se julgam, menos cultos do que deviam, mais espertos que inteligentes  e absolutamente presunçosos. 

    Ironicamente é por isso também que arranjam tantos apoios : São óptimos front-ends. Sobre terceiros não comentámos, mas a bitola pela qual atacamos Monteiro, é rigorosamente a mesma pela qual criticamos Portas, Santana, Ferro e Durão

    Para CAA  há  virtudes  em Monteiro e  vícios em Ferro. Para nós, não há rigorosamente nenhuma diferença entre a crença na tese da cabala proclamada inicialmente por Ferro e a afirmação despudurada, demagógica e perfeitamente imbecil, urbi et orbi de Manuel Monteiro quando afirmou que na "sua" ND não havia pedófilos.
A questão, quanto a Monteiro, meu,  Caro CAA, quase que se podia resumir ao parágrafo acima. Não se trata de diabolizar o passado : Por muito que doa , de facto o Dr. Monteiro não mudou no presente ...

Quanto ao PSD, e pela parte que me toca, não o encaro  como um Clube de Futebol, ou uma seita, não me baste que ganhe, exijo que seja  melhor que os outros. Mais, incompetência, por incompetência, prefiro-a feita por outros que não do meu Partido .

É um facto que na humilde e contestável opinião deste escriba, o PSD está a passar uma má fase, mas, meu Caro CAA, e parafraseando Churchill posso garantir-lhe que é sem qualquer dúvida o pior partido com excepção de todos os outros.

Para terminar,  e ainda a propósito, da quarta república, se o Dr. Monteiro, ou alguém por ele, conseguir convencer o Dr. Jardim a aderir à ND, eu prometo solenemente deixar de dizer mal da ND por uns tempos; Era de facto um excelente favor que faziam ao PSD e de facto até iam bem um com um outro...   

Publicado por Manuel 23:47:00  

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