ainda o Semanário desta semana ...
sábado, novembro 15, 2003
O Semanário é sem dúvida um caso único na imprensa universal.
Em primeiro lugar é provavelmente o único jornal à face da terra a ter publicado uma manchete, ser forçado a desmenti-la no dia seguinte em toda a concorrência, em anúncios pagos, ser ameaçado com uma chuva de processos judiciais e ter sobrevivido (dos processos nem sombra).
Depois temos claro, esse expoente do jornalismo lusitano, trabalhador incansável na Caixa Geral de Depósitos, de segunda a quarta, e sexta, e exuberante escriba no semanário à quinta que é Pedro Cid. Para mais as sucessivas empresam que gerem aquele semanário conseguem desmentir sistematicamente a velha máxima do Estado de Direito e de Mercado de que para se sobreviver é preciso pagar impostos, ter uma situação regularizada com a Segurança Social, etc. Em suma, o Semanário apenas sobrevive porque Rui Teixeira Santos e Companhia sempre arranjam maneira, de fazer uns servicinhos aos poderes do momento (sejam eles laranja ou rosa) em troca de um olhar para o lado das Finanças e Segurança Social.
Nesta semana no Semanário, se bem que não seja uma daquelas edições de colecionador, temos duas peças a reter : Uma o editorial de Rui Teixeira Santos e outra o artigo de opinião de Carlos Abreu de Amorim.
Sobre o editorial, uma ode ao Santanismo futuro e à quarta república - esta personificada pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, apenas uma nota : O Professor Cavaco, nem de propósito, recordou, ontem mesmo, que está vivo e em grande forma e livre das amarras que às vezes lhe querem impôr...
Sobre a prosa de Carlos Abreu Amorim há várias notas a salientar.
CAA começa por se indignar com a críticas de Pacheco à Nova Democracia de Monteiro para depois desferir um impiedoso ataque ao PSD, manta de retalhos e albergue espanhol, por oposição à ND, o único partido virgem de vícios em Portugal e arredores.
No papel as coisas são muito bonitas mas, além, de, no que à ND diz respeito, Pacheco ter carradas de razão, há o detalhe não negligenciável de aquilo que CAA vê como fraquezas do PSD serem em grande medida a sua força. De facto no PSD não há um pensamento único, nunca houve desde a sua fundação. De facto no PSD, Poder ou Oposição, sempre ouve quem pensasse pela sua própria cabecinha. De facto, e o pós bloco-central e a "inesperada" ascenção de Cavaco é disso paradigmática, sempre houve quem no seu interior tivesse razão antes do tempo, preparando sempre condições para o day after. Por isso todas as incoerências orgânicas que CAA vê no PSD são falsas, e mais, o arrazoado de CAA apenas prova que a ND não vai durar muito. É claro que pelo meio há criticas pertinentes à governação em concreto mas que se perdem na irrazoabilidade da incompreensão do que é de facto o PSD.
E o PSD é, antes de ser um partido de aparelhos, intelectuais, clubes de pensadores, ou iluminados, um Partido de bases. O PSD podia estar um, dois, três meses sem líder, sem líderes distritais, sem concelhias e nem por isso se extinguia ou entrava em colapso.
A ironia de tudo isto é que o raciocínio que suporta a linha coerente que CAA reclama para a ND e que, felizmente, não vê no PSD, foi o mesma que levou à saída de Monteiro do PP, aos processos - ainda no PP - contra CAA aquando das últimas autárquicas (aquí só ficava bem a CAA recordar que foi graças ao mesmissimo ecumenismo laranja que ele agora crucifica que o mesmo CAA entrou nas listas da coligação que conquistou a Câmara do Porto já que por vontade da direçao do PP CAA jamais faria parte das mesma i.e. na prática entrou pela cota do PSD) dado que o PP de facto não suporta por definicão a existência de uam oposição interna - e é a mesma linha de raciocínio que levará, por mera transitividade, à implosão da Nova Democracia.
Admitindo que a ND descola, e numa primeira fase, graças aos bons ofícios de Portas na coligação e à cegueira de Barroso, tem todas as condições para descolar pelos menos nas Europeias, vai ser impossível manter a pureza de pensamentos e dogmtismos iniciais a não ser que se transforme, num partido neo-estalinista formalmente de Direita. Mais, o próprio discurso de CAA é muito mais à direita e liberal do que o ultra ensaiado discurso de Monteiro, que pretende abarcar tudo do BE para a Direita, pelo que a prazo todos os argumentos que CAA usa para criticar o PSD serão válidos, alguns já são, a própria ND, que obviamente, dará primasia à táctica sobre os principios e a estratégia já que uma coisa é ter-se um partido com muita gente e muitos discurso diferentes mas porventura copmplementares outra totalmente diferente é ter-se muito menos gente e discursos du jour. Foi assim no passado com o Dr. Monteiro, vai ser assim no presente com o Dr. Monteiro porque há coisas que nunca mudam e uma delas é o Dr. Monteiro.
Para terminar, uma nota de espanto : CAA está há demasiados anos na política, sabe demasiado bem como funcionava, e funciona o sistema, para poder dizer com seriedade que a ND vem de fora ou é uma lufada de ar fresco, a não ser que não tenha acompanhado com muita atenção os processos que levaram à fundação da mesma ...
Tivesse havido uma verdadeira reforma do financiamento partidário (temática que parece passar à margem do radar da ND) e perceberiamos porquê...
Publicado por Manuel 11:56:00