"Excepção à regra"
quarta-feira, outubro 22, 2003
Há só uma coisa que pode ser dita do texto abaixo, porque está lá tudo, que é dar os sinceros parabens ao autor.
Tenho tentado, com muito esforço, não me pôr aqui a comentar seriamente o processo Casa Pia/Paulo Pedroso. Tenho tentado muito e isso é verificável no Glória Fácil .
Acontece, porém, que a paciência tem limites. E esses limites são os da inteligência - ou, melhor dizendo, os da falta dessa inteligência.
Assisti há poucas horas, em directo e ao vivo, à comunicação ao país do sr. Presidente da República (PR). Escrevi a respectiva notícia.
Finda essa tarefa, eis o desabafo: não paro de me espantar com a forma como, dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, jorram os discursos que mais munições dão aos populistas deste caso (como os Namoras e Catalinas e afins). Discursos oriundos de onde menos se espera: do Palácio de Belém, por exemplo.
Porque foi isto que o sr. Presidente ontem fez quando tratou o caso como uma "novela judiciária" (sic). Os demagogos desta história (repito: Namoras, Catalinas e afins) têm agora um pretexto maravilhoso para dizerem que, ao mais alto nível na hierarquia do Estado, o caso é desvalorizado, achincalhado, vulgarizado, etc, etc.
Ora isto era perfeitamente escusado. Deste discurso é este micro-sound-byte ("novela judiciária") que vai ficar. O PR não podia deixar de o saber. Os populistas desta história (Namoras, Catalinas e afins) vão poder agora dizer que é gravíssimo tratarem-se das vítimas do processo Casa Pia ("as crianças", dizem eles, como se as representassem) como personagens de uma "novela judiciária". Isto não acontece por acaso - mas não pensem que defendo alguma tese conspirativa para explicar este discurso do PR.
A minha "conspiração" é muito simples: quando debaixo de fogo, o dr. Sampaio deixa-se levar pela irracionalidade. Responde com o coração na boca. E se calhar porque pensa que que os populistas, por apelarem às emoções, só se movem, eles próprios, no campo dessas emoções.
Erro, erro, erro: as emoções populares convocam-se pelo uso apuradíssimo da racionalidade de quem convocar essas emoções. Não há sujeito mais racional do que o populista. O instrumento de resposta ao populista é o mesmo que ele usa para ser populista: a racionalidade. Isso falhou, ontem, no Palácio de Belém.
João Pedro Henriques
Transcrito, com a vénia devida, do Glória Fácil
Publicado por Manuel 00:10:00
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