Crítica Teatral

No rescaldo da atribulada peça teatral "A Filha do Senhor Ministro" que teve actos com nomes tão sugestivos como "Palavra de Honra", "O ministro, a filha, o outro ministro e o chefe de gabinete dos dois" e "Falaste com o teu chefe de gabinete ? - Não falei com o teu" (agradece-se ao Terras do Nunca a inspiração) há uma série de ilações a tirar, na sua maioria nada abonatórias.



Em primeiro lugar, serve para demonstrar a real independência dos grandes comentadores da nossa praça.

Com efeito, desde Pacheco Pereira, que se emaranhou numa teia de aranha à volta do conceito de "Palavra de Honra", a Marcelo que fez o pino mas não foi consequente, a Santana que considerava o caso morto na passada sexta-feira e ontem veio fazer a tripla pirueta mortal na SIC dando o dito por não dito, o certo é que nenhum teve a independência e coragem (dando de barato que todos (excepto talvez Santana) tinham a lucidez) de proclamar o óbvio: Que a partir do momento em que Lynce saía, Martins da Cruz tinha de sair (e não eram precisos os pormenores mais ou menos mórbidos que se vieram a saber mais tarde para chegar a tão simples conclusão).

Isto diz muito dos longos tentáculos do Estado e das fidelidades partidárias (e só Santana tem uma boa desculpa - o facto de ser vice do PSD). Diz também bastante do triste estado a que chegou a Política em Portugal. Com efeito, e quato maiores são os clamores em contrário, mais os acontecimentos são "vistos" cada vez mais numa lógica clubística onde quem não está a favor está fora e o debate político é zero.

Em segundo lugar, diz bastante acerca da Oposição que temos. Com efeito, e consciente, vá lá, da suas debilidades estruturais o PS nada fez, nada disse que não fosse confiar na honra de Martins da Cruz. Só depois do facto consumado, é que Ferro achou por bem falar ao País ... Em suma temos o maior Partido da Oposição com mais medo que haja instabilidade governativa do que todos os boys laranja juntos (e não é por particular apego ou amor à Pátria) o que é sintomático.

Em terceiro lugar, estes dias permitiram perceber melhor os estranhos mecanismos e cumplicidades pelos quais na sombra interagem determinados membros da Corte Governamental e algumas redacções.

O melhor, e mais impagável, é a forma como o Expresso geriu toda a polémica.



Na passada segunda-feira, Nicolau Santos, quase que concluia, nas palavras amargas e irónicas, de João Paulo Guerra hoje no Diário Económico, "que as culpas de todo este imbróglio cabiam ao governo anterior pelo facto de não ter licenciado um curso de medicina na Lusíada".

Ontem, terça, o todo poderoso Director do Expresso, não se sabe por influência de que substâncias, queixava-se dos media (!) e da sua excessiva e perniciosa influência, ele que é o Director do mais influente órgão da imprensa escrita indígena, isto num caso em que os media tiveram genericamente uma atitude passiva, e muito contida (vide os tempos áureos do Independente ou a recta final do Cavaquismo) i.e. limitaram-se a descrever os acontecimentos sem sequer os forçarem ... Mais, o arquitecto vislumbrava até um regresso à I República e apelava ao fim de "comportamentos irresponsáveis. Que contribuem objectivamente para que o poder caia na rua."

Hoje, e num artigo certamente patrocinado pela Associação Nacional de Cegos, Fernando Madrinha vem dizer que "Por muito que hoje se diga o contrário, a demissão de Martins da Cruz foi surpreendente e inesperada". No meio da trapalhada constata, certamente para grande irritação do chefe, que "Pedro Lynce e Martins da Cruz não foram derrubados pelos «media»".

Uma sequência elucidativa. Elucidativo também é o comportamento, senão reverencial pelo menos assaz respeitoso, dos élites dentro dos media, quer por crença na imbecil teoria dos ciclos, quer por não vislumbrar alternativas ... A este título as declarações do quase a ser ex-Director do Diário de Notícias Mário Bettencourt Resendes dizendo não ser este o "momento político" (independentemente da boa ou má performance de A ou B) para uma remodelação de fundo são emblemáticas.



Sobre o Primeiro-Ministro, José Manuel Durão Barroso, não vale a pena falar.

Só não vê quem não quer: Há-de cair, só ainda não sabe é quando...

Publicado por Manuel 13:44:00  

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