Os Canibais ...
segunda-feira, setembro 29, 2003
Com o estilo peculiar a que já nos habituou José António Saraiva, Director do Expresso, escreve mais um editorial no Expresso Online, onde, e mais uma vez, enuncia o óbvio e omite o essencial...
JAS termina a sua prosa afirmando:
"(...)
Ora a questão que se coloca é esta: se o CDS tem posições iguais às do PSD, para que serve?
Qual é a sua utilidade?
Uma coligação entre dois partidos só faz sentido se os dois têm uma base comum de entendimento mas diferenças de opinião relativamente a vários temas.
Se um dos partidos renuncia às suas opiniões, a coligação deixa de ter sentido.
Não se pode falar de coligação mas de «deglutição».
Isto é: o PSD está a engolir o CDS.
Acabamos do mesmo modo como começámos: como Paulo Portas não conseguiu meter Durão Barroso no bolso, a alternativa que encontrou foi meter-se ele próprio no bolso de Durão Barroso.
Para se proteger."
Isto tudo a propósito da, aparentemente, já acordada coligação PSD/PP às próximas eleições europeias.
Em suma JAS acha que a coligação é um erro estratégico que prejudica o PP, e só serve o PSD e os interesses imediatos de Portas.
Nada de mais errado e absurdo!
A coligação é de facto um erro estratégico, de palmatória, mas do PSD, que só serve os interesses de Portas, do cada vez mais (só) seu PP e ironicamente de Manuel Monteiro e do PS.
Analizemos friamente os factos:
A grande ameaça a Portas e ao PP, não vem do Pai Soares, nem das constantes e cíclicas campanhas (muito provavelmente acordadas nos bastidores, já que dão um monumental jeito a ambas as partes ) que contra ele o PS decide periodicamente lançar.
A grande e maior ameaça ao Dr. Portas e ao PP é o seu passado, o qual se personifica no Dr. Monteiro e na Nova Democracia.
Ora, o pior que poderia acontecer a Portas, e ao PP, era um embate puro e duro, em campo aberto, nas Europeias, entre o, seu, PP e a Nova Democracia de Monteiro.
Afinal ambos disputam franjas do eleitorado semelhantes, pelo que teriamos um festim para a comunicação social e, como não há guerra triangulares, nem Portas nem Monteiro teriam tempo para se ocupar de terceiros (nomeadamemente do PSD) pelo que estariam condenados a "canibalizarem-se" mutuamente.
Os restantes Partidos do espectro sairiam, pura e simplesmente, ilesos deste banho de sangue, a dois, e do qual não haveria vencedores apenas e só vencidos.
Quanto ao PSD, este ficava ou com um Portas reduzido a pó, ou com um Portas verdadeiramente subserviente e sem os laivos do mesmo delírio que leva actualmente alguns dirigentes do PP, e em plena transe, a afirmar que este PP tem potencial para chegar aos 20% do eleitorado.
Isto caso porventura o PSD tivesse algum interesse aritmérico em renovar a coligação para as próximas legislativas (dúbio, dado que como a história ensina, em caso de dúvida o eleitorado PP vota útil ...)
Como bónus, acaba-se de vez com a mania que o PP tem de dar palpites sobre o candidato presidencial do PSD e da direita, destruía-se a ameaça populista de Monteiro e continha-se finalmente um virus chamado Portas.
Em alternativa temos, um PP com um discurso europeu moderado, mas a empurrar o PSD para a (extrema) direita na medida em que Portas, agora seguro pelas costas largas do PSD, não resistirá a cobrir, ponto por ponto, na componente não europeia o discurso demagógico e populista de Manuel Monteiro (já o começou aliás, com a questão das cotas e da imigração) e um Manuel Monteiro feliz e contente pois não corre o risco de ser forçado, por força do passado e da comunicação social, a uma luta de morte com o seu antigo CDS/PP...
Em suma, temos um PSD a alienar parte da sua identidade e eleitorado de centro, e mesmo centro-esquerda (que poderia até seduzir dadas as atribulações no PS), um PP e um Paulo Portas felizes e contentes, e um Manuel Monteiro a fazer o jogo da esquerda e a condicionar o discurso da coligação (que acaba por legitimar o seu) para não falar de um PS a respirar de alivio pois, mesmo que guine à esquerda, não corre grandes riscos de perder votos ao centro...
Ora tudo isto ponderado e nas contas do astuto José António Saraiva é um negócio estrategicamente mau para o PP e óptimo para o PSD ...
Quem é amigo, quem é ?
Publicado por Manuel 19:32:00
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