A grande ilusão

Para quem governa em maioria absoluta, a questão do poder e repartição de cargos, apresenta-se de modo bem simples: como conciliar essa maioria de votos que asseguram a aprovação de diplomas, no Parlamento, com a maçada de ainda assim ter de existir oposição e manifestação de opiniões contrárias às dessa maioria legitimada, democrática e segura?

Nem chega a ser dilema. Em todos os cargos públicos, cuja nomeação de responsáveis depende da iniciativa e escolha do governo da maioria, colocam-se a mandar e nos topos hierárquicos, pessoas da confiança política do governo. Nem se discute a validade do princípio, porque há sempre o argumento da legitimidade e responsabilização eleitoral.
Naqueles cargos de relevo indirectamente político, como sejam os que contendem com as instituições que asseguram a pluralidade da expressão, o controlo dos actos dos poderes e a capacidade de influência da opinião pública, a solução também não apresenta grandes escolhos: escolhem-se pessoas que se dizem independentes, mas que se descobre rapidamente que nunca o foram, nunca o serão e estão condicionados pelas ligações pessoais, interesses particulares, ideológicos, de tendência e de afecto.

Esta concentração de poderes fácticos e de direito cria fatalmente um universo de claustrofobia democrática.
A esperança que resta a quem observa, é a experiência histórica: noutros tempos e noutros lugares, aqui e lá fora, foram tentadas as mesmas receitas, as mesmas medidas e alimentadas as mesmas ilusões de poder.

Espere-se pela volta.

Publicado por josé 16:07:00  

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