Garganta funda


O Senhor PGR não lê blogs. Abespinha-se até se lhe falam em tais sítios. Julga que por lá se acobertam uns anónimos que praticam autênticas “vergonhas”.

Mas o Senhor PGR lê jornais. E este fim de semana está cheio de sorte. A fazer fé nos jornais, vai finalmente poder mostrar serviço na investigação de indiciárias violações do segredo de justiça. Vai também poder provar que, na magistratura que lidera, consegue meter na ordem os que falam do que não devem.

O “Público” de ontem (p. 36), pela bem aparada pena de António Arnaldo Mesquita, dizia, com todas as letras:

“Numa avaliação provisória, fonte do DCIAP revelou, ontem, ao PÚBLICO que poderá ascender a “várias dezenas de milhões de euros” o valor dos impostos em falta, em sede de IRC e de IRS”.


No restrito e selecto universo do DCIAP, não será por certo difícil ao Senhor PGR descobrir a anónima ave canora que diligentemente fez tais revelações sobre um inquérito em segredo de justiça.

Pode também aproveitar para sindicar – pelo menos face ao dever de reserva – as declarações, convenientemente anónimas, relativas ao mesmo processo, que Ana Isabel Abrunhosa assim relata no “Expresso” de ontem (p.12):

“”O fundamento das buscas era responder à pergunta: Quais são as empresas que um determinado banco auxilia na fraude fiscal? Por isso, havia neste caso prevalência da investigação sobre o sigilo bancário”, argumenta um magistrado também ligado ao inquérito”.


O Senhor PGR pode desprezar os bloggers anónimos. Mas não deverá deixar de dedicar a sua atenção ao(s) anónimo(s) palrador(es), que fala(m) do que não deve(m) e que dois prestigiados jornais situam na sua barbacã. Se não conseguir identificar a(s) fonte(s) de onde jorram tais declarações, poderá sempre, por outra via, cortar o mal pela raíz. Há actos que são exemplares. E exemplos que frutificam.

Publicado por Gomez 20:02:00  

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